Para encerrar a 26ª edição de seu Workshop, a RNP contou com a apresentação de um dos nomes mais influentes da história da computação e das redes, Robert Metcalfe, ganhador do Prêmio Turing 2023. Em uma palestra conjunta com o Simpósio Brasileiro de Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos (SBRC), o keynote falou sobre o aumento da conectividade entre as pessoas ao longo das últimas décadas e os impactos em nossa sociedade.
“Um fato importante da condição humana é que agora todos nós estamos conectados. A conectividade, nos últimos 50 anos, nos trouxe alguns impactos severos. E cada vez ficará mais intenso”, alertou Metcalfe na abertura de sua apresentação nesta terça-feira (20).
Inventor do Ethernet, tecnologia fundamental para redes locais (LANs) e expansão da internet, Metcalfe levou o público a uma viagem pelo tempo, mostrando detalhes de como foi o desenvolvimento da tecnologia que nos levou à internet que conhecemos hoje. O ano era 1973. Na época, ele estava trabalhando na Xerox.
“Trabalhei na primeira impressora a laser, que exigia protocolos específicos. Curiosamente, a única forma de imprimir nela era usando o Ethernet. Com isso, as pessoas passaram a adotá-lo. Foi uma espécie de trapaça”, contou.
Depois, Metcalfe apresentou os principais avanços que levaram à disseminação da internet, a partir de 1989, quando a proposta da World Wide Web tornou a rede mais acessível e visual para o público geral. Ele mostrou um gráfico relacionando essa data com o início da redução da pobreza extrema no mundo. Na sequência, falou sobre alguns efeitos gerados na sociedade com o aumento do uso da internet, definido por ele como patologias da conectividade.
“A primeira coisa foi o hacking. Eu escrevi um memorando em 1979 de estudantes que conseguiram hackear uma senha. E desde então isso tem ampliado. Depois veio a pornografia, o que quase levou o governo dos Estados Unidos a interditar a internet. Tivemos a Lei de Decência, que depois de um ano foi declarada inconstitucional”, afirmou.
Metcalfe também falou do início das propagandas na internet em 1994, o que levou à popularização do SPAM, publicidade não solicitada pelos usuários. “Tivemos o primeiro comercial da internet em 1994. No início pensamos que não tínhamos construído a internet para mostrar comercial de pizza. E algum tempo depois vimos que muito dinheiro viria disso”, disse.
Metcalfe destacou ainda o que chamou de patologias da conectividade mais recentes, como a censura, que pode ser praticada por governos ou plataformas que controlam
o fluxo de informações; a polarização, intensificada por algoritmos que reforçam opiniões extremas; e a câmara de eco, ambiente em que os usuários são expostos apenas a visões semelhantes às que já têm, o que limita o debate e o pensamento crítico. Ele também mencionou o crescimento da desinformação e das notícias falsas.
Ao final da palestra, Metcalfe respondeu a algumas perguntas do público e citou a Inteligência Artificial como uma tecnologia que deve crescer ainda mais.
“Tenho acompanhado essa questão da IA desde 1968. A razão pela qual não tivemos avanço maior no passado foi por causa da falta de dados. E existe uma chance agora de que não faltem esses dados devido à internet”, explicou.