Internet Brasil completa fase inicial com 10 mil chips de banda larga entregues para alunos inscritos no CadÚnico

- 05/12/2023

Evento em escola pública de Uberaba (MG) marcou última entrega de fase piloto em nove municípios; programa que democratiza acesso à internet vai ganhar escala em 2024

Maria Eduarda, 10, quer usar a internet para pesquisar sobre animais e plantas. Vitória, 13, vai ver vídeos e tirar dúvidas de matemática e geografia. Eduardo, 10, pretende descobrir novos jogos e ter apoio nas tarefas. Emilly, 14, deseja pesquisar vídeos de arquitetura e administração, potenciais profissões no futuro, além de manter contato com amigos e família.

INTBR Uberlândia

Esses alunos são da Escola Municipal Anísio Teixeira, em Uberaba (MG), uma das 11 contempladas pela entrega de 1.726 chips de internet banda larga móvel no fim de novembro. A ação faz parte do programa Internet Brasil, iniciativa do Ministério das Comunicações (MCom) com apoio do Ministério da Educação (MEC) que prevê ampliar a conectividade para 700 mil estudantes de escolas públicas inscritos no CadÚnico (cadastro único para programas sociais do governo federal).

Executado pela RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), o Internet Brasil concluiu, em Uberaba, a entrega dos 10 mil chips previstos na Prova de Conceito. Essa etapa funciona com um piloto de todo o programa. Ao todo, nove municípios participaram dessa fase, iniciada no fim de 2022. Agora, o programa entrará numa nova fase a partir de 2024 – com previsão de 50 mil novos chips a serem distribuídos no início do próximo ano letivo.

O marco foi celebrado em evento na quinta-feira (30 de novembro), com a presença de pais e alunos no auditório da Anísio Teixeira. Nas paredes, estudantes colocaram balões e cartazes com frases refletindo as expectativas geradas a partir da possibilidade de acesso à internet, como “Educação e tecnologia na construção dos saberes”.

Para Pedro Lucas Araújo, diretor do Departamento de Investimento e Inovação da Secretaria de Telecomunicações do MCom, os resultados da fase inicial de distribuição dos chips garantem a expansão do programa.

“Nossa intenção é crescer rápido, e tínhamos que ter certeza de que conseguiríamos entregar muitos chips com velocidade”, explica. “O evento em Uberaba é o último teste de distribuição massiva e conclui a etapa de Prova de Conceito, projeto-piloto do programa. Isso significa que agora temos os insumos, a informação e a experiência necessária para a ampliar o Internet Brasil a partir do ano que vem”, comemora.

Ele define a participação da RNP como fundamental neste processo. “A RNP juntava duas condições: já tinha experiência em campo com distribuição de chips, mas para alunos do ensino superior. Outro ponto é que estamos usando as escolas como canais de distribuição. E a RNP também já tinha experiência com secretarias de educação no contexto de ações conectividade de escolas ”

Como funciona o Internet Brasil?

O programa prevê que os estudantes tenham acesso, de forma gratuita, a um chip com até 20 GB mensais em dados móveis de internet. Outro diferencial é o uso de chips neutros, o que possibilita à RNP definir remotamente a operadora a ser usada. Dessa forma, o programa não fica dependente de uma empresa contratada (e, por consequência, do seu chip), podendo se conectar à rede 4G mais adequada em cada região.

Suely Campos, coordenadora de Soluções da RNP, diz que o modelo permite acessar a melhor conexão de internet para os alunos beneficiados. “Dada a dificuldade de obter o melhor sinal de conectividade com uma determinada operadora, é possível trocar sem descartar o chip plástico atual.”

Para ela, os resultados atuais confirmam que a expansão é viável. “O próximo passo será iniciar o atendimento para as demais secretarias de educação que devem participar do programa, além de ampliar o Internet Brasil para atender ao público-alvo de agentes comunitários de saúde e de combate às endemias”, diz.

O objetivo é ampliar a inclusão digital no país

Não por acaso, entre os alunos beneficiados, muitos terão internet disponível no dia a dia pela primeira vez, e outros vão poder ampliar o acesso.

“Ter essa internet grátis facilita bastante, pois não temos condições de pagar todo mês. Estou desempregada e tenho internet bastante limitada”, afirma Veridiane Alves de Paula, 35, mãe de Lucas Gabriel, 12, beneficiado pelo programa. “Isso vai me ajudar a estudar”, diz ele, enquanto mostra o folheto do Internet Brasil.

Francisco, 12, esperava pelo chip ao lado da mãe, Sandra Costa, 48. “Já tive um trabalho em que eu tinha de pesquisar e ficou difícil”, conta o menino. "Ele gosta muito de matemática e ciências, e é muito curioso para aprender. Hoje temos internet, mas é muito pouca.”

Assim que receberam o chip, as gêmeas Eloá e Tainá, 11, correram para compartilhar a novidade com as colegas. “Foi uma surpresa muito grande”, disse Eloá. “Com o chip, vai ser muito mais fácil para a gente estudar”, completou a irmã. As duas elencam português e matemática como as matérias preferidas – e também as mais desafiadoras.

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Para Ketally, 11, aluna do 5º ano, o chip vai facilitar as tarefas. Ela conta que, em vários momentos, já precisou pedir ao irmão mais velho para imprimir atividades extras que a professora passa via internet. “Agora posso simplesmente apertar no link e fazer”, comemora ela, que também quer usar a ferramenta como apoio para buscar imagens para desenhar e no contato com a família.

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Diretora prevê maior contato com famílias e organiza monitoria tecnológica

Segundo a diretora Edna Chimango, atualmente todas as salas de aula já têm grupos de Whatsapp. “Às vezes, o único contato com as famílias é pela internet, porque muitos não têm créditos para ligações. O chip vai permitir maior contato, fora a ampliação na aprendizagem”, afirma ela, que vê outras dificuldades a serem superadas.

“Nossos alunos vêm de uma realidade muito vulnerável. Recebendo esses chips e tendo oportunidade de acesso, há uma ampliação do conhecimento”, completa a vice-diretora e professora Camilla Bosco.

O controle do acesso à internet deve ser feito pelos pais, que assinam um termo de responsabilidade e autorização para entrega do chip pelas escolas. A escola, porém, participa desse processo como ponto de apoio – daí a interface com as unidades de ensino. É o caso da Anísio Teixeira, que já planeja palestras sobre segurança na internet para os beneficiados pela entrega dos chips. “Em fevereiro, queremos fazer uma monitoria tecnológica. Vamos treinar dois a três alunos em cada sala para dar esse apoio”, conta a diretora.

O aparelho celular deve ser disponibilizado pelas famílias. A medida segue pesquisas que apontam que boa parte da população já tem acesso aos aparelhos, mas com dificuldade no acesso amplo à internet. “Entregamos o chip para o aluno, mas o propósito é que ele seja o vetor de inclusão digital da família”, ressalta Pedro Lucas Araújo, do MCom.

O evento de distribuição foi marcado ainda por apresentações sobre cuidados na internet, leitura de poesias e interações com alunos. Alguns citaram sonhos para o futuro, como ser jogador de futebol, goleiro, advogado, atriz/ator e perito criminal.

*Crédito fotos: Alexandre Rezende