Dados do Ministério da Educação (MEC) apontam que o número de estudantes no ensino superior brasileiro cresceu em 2023, chegando a 9,9 milhões de matrículas – uma alta de 5,6% em relação ao ano anterior. No entanto, um grande desafio ainda é a evasão, ou seja, o abandono da universidade antes da conclusão do curso. Segundo dados do Sindicato de Estabelecimentos de Ensino Comercial no Estado de São Paulo (Semesp), que usa o Censo da Educação Superior 2023 do MEC como base, a evasão total, que leva em conta o ensino público e o privado, chegou a 26,4% em cursos presenciais, enquanto nos cursos a distância o total chegou a 40,1%.
Para lidar com esse cenário complexo, um grupo de pesquisadores da Região Sul, que já trabalhava com dados educacionais na Universidade Federal de Santa Catarina, desenvolveu uma ferramenta para facilitar o trabalho de compilar essas informações. Com o apoio da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa) foi possível ir além e ampliar o escopo dessa solução, o que resultou na criação do Lanse, uma plataforma que antecipa riscos de evasão no ensino a distância e permite que instituições possam atuar antes de perder seus alunos.
“Do desenvolvimento de um plugin para ajudar o professor a identificar quais alunos estavam acessando e resolvendo os exercícios, passamos para pesquisas na área de identificação de risco de reprovação. E, em algum momento, apareceu o edital da RNP. Foi aí que o projeto avançou para se tornar produto“, afirma Vinicius Ramos, coordenador de Desenvolvimento do Lanse.
Os pesquisadores ingressaram no Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação para Serviços Avançados da RNP em 2021. A partir disso, formaram um grupo de trabalho para criar uma solução que pudesse identificar o risco acadêmico usando inteligência artificial e outras ferramentas. Durante o período em que participavam do programa, refinaram a ferramenta e também desenharam o modelo de negócio para a startup.
“A participação da RNP foi a alavanca que permitiu transformar esse projeto de pesquisa em um produto digital, porque teve tanto a participação da RNP fomentando uma equipe fixa no projeto, o que foi fundamental para desenvolver o produto, além de trazer suas experiências, com mentorias e orientações voltadas para startups e empreendedorismo”, explica Rafael Targino, CEO do Lanse.
Um dos grandes diferenciais da plataforma é transformar dados do ambiente virtual de aprendizagem em informações práticas para professores e gestores. Com o uso de inteligência artificial, o Lanse consegue analisar padrões de acesso, entregas de atividades e outros comportamentos dos estudantes. Com essas informações, a ferramenta gera previsões confiáveis sobre quem precisa de apoio, além de oferecer relatórios detalhados que ajudam as instituições a agir de forma preventiva.
“O diferencial do Lanse é ter três pilares integrados: identificação de risco acadêmico com base em predição por machine learning; o módulo de intervenções com mensagens de alerta, recuperação e reforço e as informações gerenciais, disponíveis para coordenadores e gestores acompanharem a evolução dos alunos; e o processo de intervenção”, afirma Targino.
O Lanse já é usado por quatro instituições de ensino superior, e monitora mais de cinco mil estudantes por meio de análises semanais de riscos. Além de benefícios para os alunos, a plataforma também contribuiu para o aumento do engajamento dos professores. A ideia é aperfeiçoar ainda mais a solução, com a adoção de uma IA generativa própria que possa oferecer respostas personalizadas aos alunos, identificar questões de ordem social ou financeira e encaminhá-los para os setores responsáveis das instituições.
“O aluno do ensino a distância é um aluno muito sozinho, que fica por conta própria. Esse sentimento de solidão, de estar na sombra, é algo que conseguimos minimizar com mensagens personalizadas. Temos tido bastante sucesso em aproximar os estudantes do processo e aumentar o engajamento”, conclui o CEO do Lanse.