O avanço da telemedicina no Brasil levou um grupo de pesquisadores à decisão de enfrentar um problema importante: como tornar a videoconferência segura, acessível e capaz de atender à saúde digital sem expor dados sensíveis dos pacientes? Lidar com essa questão foi o ponto central para a criação da API V4H, um conjunto de regras e protocolos de videoconferência que respeita a privacidade dos usuários, não coletando seus dados. O desenvolvimento da solução contou com o apoio da RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa).
Em 2019, os pesquisadores ingressaram no Programa de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação para Serviços Avançados da RNP e formaram um grupo de trabalho liderado pelo Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital (Lavid) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), que teve como parceiros a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o Instituto do Coração (InCor) da USP. Ao longo de dois anos, eles focaram seus esforços na construção e no refinamento da API, que foi a pedra fundamental da Wisecare Tecnologia, startup responsável pelos serviços de videoconferência.
“A RNP teve um papel de validador, nos ajudando a mostrar de onde estávamos surgindo. Para uma empresa que começa do zero, isso é sempre relevante. E a Wisecare surgiu para atacar a dor dos mercados quanto à necessidade de segurança nas comunicações em videoconferência e em seus documentos, aliando a isso soluções de ponta. Fomos a primeira empresa no Brasil a ter acessibilidade em Libras integrada em videoconferência”, explica Marcelo Borges, CEO da Wisecare Tecnologia.
As soluções de videoconferência funcionam no modelo white label, ou seja, adaptadas aos sistemas de seus clientes e parceiros. A API V4H é voltada para chamadas seguras que não coletam dados dos usuários e ainda permitem o registro das gravações em blockchain, garantindo ainda mais segurança e privacidade. Há também uma plataforma de telemedicina SaaS (em nuvem), que pode ser integrada a prontuários eletrônicos. Além disso, a Wisecare se destaca por incorporar recursos de ponta em suas soluções. O sucesso das ferramentas já pode ser medido em números: são 183 organizações cadastradas na plataforma, 60 parceiros ativos e 12 clientes que utilizam as soluções de forma comercial.
“A API V4H nos trouxe muitos benefícios. Usávamos outra ferramenta de videoconferência localizada fora do Brasil e, quando descobrimos a Wisecare, uma plataforma brasileira, decidimos trocar”, conta Suelen Morais, CTO do Grupo SAS, que utiliza as ferramentas. “Tivemos todo o apoio deles para integrar a solução em nossa empresa e ainda contamos com agilidade na prestação dos serviços. Também propomos sugestões de melhorias, que são atendidas pela Wisecare. Com a solução integrada ao nosso sistema, chegamos mais perto dos nossos pacientes em todo o Brasil, promovendo um atendimento mais próximo e humanizado, mesmo sendo à distância”.
A Wisecare continua avançando para melhorar suas soluções. Um dos investimentos é em ferramentas baseadas em inteligência artificial (IA), que vão desde melhorias na experiência das chamadas até novos recursos de acessibilidade. Também abriu uma subsidiária em Portugal, a Wisecare Technology Europe, que foi aceita na Startup Lisboa, aceleradora que apoia startups com mentoria, rede de contatos e acesso a investidores internacionais.
“Foi a tecnologia de videoconferência desenvolvida no Brasil que nos levou até lá. Essa internacionalização é fruto da nossa origem acadêmica e mostra que o que nasceu em um grupo de pesquisa hoje é reconhecido em um dos principais hubs de inovação da Europa”, ressalta Marcelo Borges.