A internet como é conhecida tem 40 anos e dá sinais de que precisa se reinventar. O esgotamento de endereços IP, o avanço da Internet das Coisas, ataques cibernéticos, aplicações em tempo real e a internet móvel são alguns dos desafios para a expansão da rede atual. Com mais de 3,3 bilhões de usuários em 2015, a internet cresceu, mas os princípios básicos para o seu funcionamento continuam os mesmos. As soluções encontradas até o momento e a inclusão de novas funcionalidades, não previstas no projeto original, transformaram a internet em uma verdadeira “colcha de retalhos”.
Diante disso, a comunidade mundial de pesquisa em redes de computadores está em constante procura por uma Internet do Futuro, que proponha novas arquiteturas alternativas. As teorias propõem ou uma evolução da internet ou um novo modelo do zero. De qualquer maneira, para realizar experimentos, parte da infraestrutura da internet pode ser usada como plataforma para testes (testbeds). “Construímos redes sobrepostas, isoladas da rede em produção, para experimentar novas ideias nesse ambiente”, explica a diretora-adjunta de Internet Avançada da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), Iara Machado.
A RNP, que opera a rede acadêmica brasileira, disponibiliza a plataforma Fibre (Future Internet Brazilian Environment for Experimentation), para experimentos em Internet do Futuro. Esse ambiente funciona como um laboratório virtual em larga escala e é formado por uma federação de 11 ilhas de experimentação, abrigadas em universidades e instituições de pesquisa brasileiras.
Essa infraestrutura está aberta para qualquer laboratório interessado em Internet do Futuro, em especial para professores e alunos de computação que queiram acesso a um ambiente de experimentação real. O Fibre também funciona como um laboratório em larga escala para uso em aulas práticas de rede de computadores. “Preparar a próxima geração de pesquisadores para o desafio da Internet do Futuro é um valor. Estamos trabalhando com os professores para que eles usem a ferramenta junto aos alunos, no ensino de disciplinas em redes de computadores”, afirma Iara Machado.
O Fibre é resultado de um projeto coordenado entre o Brasil e a União Europeia, desde 2010, para Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC). O objetivo inicial foi desenvolver um ambiente que permitisse a colaboração de pesquisadores do Brasil e da Europa em projetos de Internet do Futuro. O legado é uma plataforma disponível remotamente para qualquer universidade, instituição ou empresa no Brasil ou na América Latina que tenha interesse em contribuir para a evolução da internet.
Em parceria com a comunidade acadêmica
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) coopera com a RNP para a evolução da plataforma, adotando técnicas de virtualização da rede, a fim de alcançar a flexibilidade exigida por esse ambiente de experimentação. Através das redes definidas por software (SDN, em inglês), é possível controlar e gerenciar melhor diversas topologias de rede. “Usamos o Fibre para adotar práticas de SDN em um ambiente físico real. Por exemplo, um aluno em Goiânia pode acionar um controlador SDN e comandar equipamentos de rede localizados em Brasília. Não é preciso ter a inteligência junto à rede, é possível configurá-la longe de um testbed físico”, explica Heitor Motta, do Departamento de Ciência da Computação da UFMG.
Por meio de mais uma chamada coordenada entre o Brasil e a União Europeia em 2015, a plataforma Fibre será uma das infraestruturas de experimentação adotadas pelo projeto Futebol (Federated Union of Telecommunications Research Facilities for an EU-Brazil Open Laboratory). Com início em março de 2016, o trabalho conta com a participação da Trinity College, na Irlanda, da Universidade de Bristol, no Reino Unido e das universidades federais do Rio Grande do Sul (UFRGS), do Espírito Santo (Ufes), de Minas Gerais (UFMG), do Ceará (UFCE) e da estadual de Campinas (Unicamp), além das empresas Digitel e Intel Brasil. O objetivo é construir uma plataforma experimental para explorar a integração entre redes ópticas e redes sem fio.
Para mais informações sobre como participar, acesse www.fibre.org.br.