Por Mário Simões*
Há 23 anos, em junho de 1995, o Senado Federal publicava oficialmente a primeira página de internet do Legislativo brasileiro. O senado.gov.br foi ao ar quatro meses antes da página do Senado dos EUA e quase seis meses antes da primeira publicação do Senado francês na rede.
No final da manhã do dia 5 de junho, uma segunda-feira, o serviço de processamento de dados do Senado (Prodasen) havia conseguido mobilizar o então presidente da Casa, José Sarney, para conhecer a proposta da página da instituição na internet. Alguns dias depois, a pedido do parlamentar, seria realizada uma apresentação aberta a todos os senadores.
A internet começava no Brasil. Em 20 de dezembro de 1994, em comunicado, a Embratel lançou o serviço de internet comercial, em fase experimental que iria até abril de 1995. A partir de maio, a RNP (Rede Nacional de Ensino e Pesquisa), encarregada de cuidar da web no país, iniciaria sua versão comercial.
Leia o texto na íntegra publicado na Intranet do Senado Federal
Estava aberta oficialmente a internet ao mercado brasileiro e sua expansão viria com a entrada em operação dos provedores privados, destaca Demi Getschko, diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br), pioneiro da internet no Brasil e primeiro brasileiro indicado ao Hall da Fama da Internet. Mesmo no início, a rede já despertava uma grande curiosidade na sociedade. Em março daquele ano, havia sido capa da revista Veja e objeto de reportagem no programa Fantástico, da TV Globo.
Quando Armando Nascimento, que integrava o grupo responsável pela implantação da internet no Senado, chegou à sala de comissões da Ala Nilo Coelho para fazer a apresentação aos senadores solicitada por Sarney, uma primeira surpresa: 22 senadores aguardavam.
— Fizemos a demonstração e estava tudo bem, aí o [senador José] Sarney pediu que fosse acessado o site da Capela Sistina. E o [senador Romeu] Tuma solicitou um acesso ao FBI [Federal Bureau of Investigation, a polícia federal norte-americana].
O alívio com a apresentação bem sucedida deu lugar à apreensão. Por precaução, haviam combinado que Armando faria a apresentação e o colega João Holanda ficaria no Prodasen para qualquer emergência ou necessidade de suporte. Antônio Carlos Ferreira da Silva, o Toninho, que havia desenvolvido a página, também estava tenso.
A página do Museu do Louvre, em Paris, era a grande referência à época e oferecia imagens de pinturas famosas de seu acervo. Escolheram usar o Louvre na demonstração e, como medida de segurança, a página do museu foi “cacheada”. “Cachear”, no jargão do setor, é baixar previamente, colocar em memória cache, um dispositivo de acesso rápido, para evitar qualquer problema decorrente do acesso on-line.
Naquele tempo o Senado tinha uma linha dedicada da Telebrasília com uma velocidade de 2 Mbits/s – hoje, a banda de internet da Casa é mil vezes superior, com 2 Gbits/s. A RNP havia deixado de atender somente ao meio acadêmico para estender seus serviços de acesso a outros setores da sociedade e sua capacidade de conexão internacional chegava a 4 Mbits/s. Para se ter uma ideia, hoje, somente o backbone (a espinha dorsal da rede) da RNP que liga o DF a SP é de 10 Gbits/s, ou seja, uma velocidade 2.500 vezes maior que o vínculo internacional de então.
“Cachear” a página do Louvre foi uma ação para evitar qualquer surpresa na hora da apresentação, mas a demanda dos dois senadores obrigou Armando a sair do ambiente controlado. Antes de atender aos pedidos, recorda ter explicado sobre os limites das conexões e a possibilidade de problemas com o sinal e dificuldades de acesso.
A consulta ao Museu do Louvre sairia do Senado até a RNP, seguindo até a Fapesp, em São Paulo, que se conectava diretamente com o Fermilab, o laboratório de física de altas energias especializado no estudo de partículas atômicas, com sede na cidade de Batavia, em Illinois, nos Estados Unidos. De lá conectaria um servidor na Europa, provavelmente localizado no CERN (sigla para “Conseil Européen pour la Recherche Nucléaire”, em francês, Centro Europeu para a Pesquisa Nuclear), para, enfim, ligar-se ao site do Museu do Louvre. E faria o caminho de volta com informações de imagens, que ainda deveriam ser processadas pelos equipamentos usados na apresentação.
Esses equipamentos, segundo Armando, eram “provavelmente 386”. No entanto, “não tenho certeza” diz ele. “Mas o Prodasen era cliente da Microsoft e tinha acesso às versões beta-teste de seus produtos. Para o lançamento da internet, acho que já estávamos usando o novíssimo Windows 95”.
– O primeiro foi a Capela Sistina e a seguir abrimos o site do FBI. Felizmente conseguimos acessar as duas páginas sem o menor problema. Tudo transcorreu muito bem. A demonstração foi um sucesso e, a partir dali, fomos trabalhar para colocar a página no ar.
Alguns dias depois, em 20 de junho, a página do Senado seria publicada antes dos websites de seus correspondentes da América Latina; a página do Senado dos Estados Unidos foi publicada em 20 de outubro daquele ano e a do Senado francês somente em 6 de dezembro de 1995.
*Mário Simões é jornalista e funcionário do Prodasen há 20 anos.
Fonte: Agência Senado