É possível resolver todos os problemas tecnológicos com inteligência artificial? Quais são as competências necessárias para seu desenvolvimento? Dá para incorporar IA em soluções de problemas dos pontos de presença (PoPs) da RNP ou em questões de cibersegurança? Essas foram algumas perguntas respondidas por Daniela Brauner, coordenadora do Comitê Técnico em Ciência de Dados e Inteligência Artificial da rede, Antonio “Guto” Rocha, professor da UFF, e Wagner Meira, professor da UFMG, nesta quinta-feira (1º), no último dia do Fórum RNP 2022.
A partir de questionamentos feitos por Lisandro Granville, moderador do painel, os especialistas falaram sobre como empregar a tecnologia em diferentes áreas de pesquisa, com ênfase nas aplicações de interesse do Sistema RNP.
Na visão de Guto, o hype da inteligência artificial tem feito as pessoas acreditarem que ela é a chave para resolver “todos os problemas do mundo”. “Uma das grandes questões é justamente saber identificar o que é passível de solução com as técnicas de IA e o que não é”, ponderou.
E não é tão simples desenvolver essa capacidade de reconhecer o que pode ser resolvido por meio da IA. Daniela Brauner elencou algumas características dos melhores profissionais desse ramo: ser criativo e gostar de estudar, saber manipular dados, conhecer linguagem de programação, dominar a matemática e ser um bom resolvedor de problemas.
“Mas não existe ninguém com todas essas expertises”, reconheceu ela. “Então, é fundamental ter soft skills, como comunicação e adaptabilidade, para trabalhar em equipe. Ciência de Dados e IA se fazem com times multidisciplinares”, destacou.
No contexto dos PoPs e da RNP, Wagner Meira destacou que o uso da IA precisa se dar de maneira integrada. “O problema de um PoP provavelmente é o mesmo de outros, podendo ser organizada a integração das técnicas para a utilização da inteligência artificial em suas atividades diárias e mesmo em desafios de desenvolvimento”, afirmou o professor.
Já nos minutos finais do painel, os participantes refletiram sobre se a IA será um dia capaz de substituir o operador de redes humano, como os profissionais dos PoPs em todo o Brasil. Os quatro painelistas foram unânimes em dizer que não. O especialista continuará a ser essencial para “ensinar” aos algoritmos de IA quais são os problemas a ser resolvidos.
Analisaram, ainda, algumas questões de ética e de valores humanos no âmbito da IA. Mais uma vez, o foco foi no papel determinante do recurso humano. “Por trás de qualquer inteligência artificial, tem pessoas que, por ação ou por omissão, podem deturpar o uso da tecnologia”, concluiu Wagner Meira.
Se você quiser se aprofundar ainda mais em Inteligência Artificial e os potenciais conflitos éticos que ela pode ensejar, assista ao podcast do Fórum RNP 2022 no canal da rede no YouTube.
Inclusão e igualdade na ciência
O dia também foi marcado por um debate sobre liderança inclusiva e o papel da mulher na Tecnologia da Informação. Carla Pires, diretora de Tecnologia da Informação do IFSUL, Claudia Marquesani, Chief Information Officer da Petz, e Marcela Gobo, gerente de projetos de educação superior do British Council, falaram de suas trajetórias pessoais e profissionais, e de projetos que fomentam a participação de mulheres no setor. A mediação foi feita por Fernanda Cruz, diretora-adjunta de Tecnologia da Informação na RNP.
A partir de um curso de informática industrial, ainda na escola, Claudia Marquesani trilhou toda sua carreira na área tecnológica. Além de ocupar o cargo de chefia na Petz, tem pesquisado a fundo a inclusão na TI: participou de dois livros e desenvolveu sua tese de mestrado sobre a presença feminina no setor tecnológico.
“Eu sempre ouvi: ‘Como você é mulher e chegou onde está?’ Busquei encontrar os fatores que impulsionam a carreira das mulheres e os que podem atrapalhar”, contou.
A diferença entre os gêneros também esteve presente na trajetória de Carla Pires. Com um grupo de mulheres, idealizou a iniciativa Meninas Exatas, que tem o apoio da RNP e fomenta o protagonismo feminino. “Temos que mostrar as dificuldades que passamos e que o preconceito ainda é presente. Mas precisamos mostrar, também, que as coisas vêm mudando. É lento, mas estamos aqui. Cada vez mais mulheres ocupam posições estratégicas e de liderança”, ressaltou Pires.
Diferentemente das demais palestrantes, Marcela Globo não é da área tecnológica. Com formação em Desenho Industrial, Ciências e Humanidades e Relações Internacionais, ela atua como gerente de Projetos de Educação Superior na British Council. A instituição mantém projetos voltados a diminuir a desigualdade de gênero, como o Mulheres na Ciência.
Marcela detalhou as ações desenvolvidas pela entidade. “Focamos em geração de capacidades, fortalecimento das redes e promoção da agenda científica para mulheres. Dizem que ciência e mulheres não combinam, então tentamos romper os pré-julgamentos que ainda existem sobre o que é de um gênero ou de outro”.
Entre as iniciativas que integram o Mulheres na Ciência está o treinamento Mulheres em Tech – Lideranças Inclusivas, que conta com a parceria da RNP. O objetivo é atingir pesquisadoras, profissionais ou empreendedoras das áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática, para que desenvolvam suas habilidades interpessoais e avancem em suas carreiras.