SIG Covid-19 Brasil traz depoimento emocionado e informativo de médica brasileira radicada em hospital italiano

- 01/04/2020

O SIG Covid-19 Brasil, criado emergencialmente pela Rede Universitária de Telemedicina (RUTE) para aprofundar a discussão sobre o novo coronavírus, possibilitou que 70 profissionais brasileiros ouvissem, na segunda-feira (30/3) o relato da radiologista gaúcha Fabiane Barbosa, intervencionista do Hospital Niguarda, em Milão, localizado na Lombardia, região que conta com mais de 42  mil infectados pelo Covid-19..

A experiência adquirida no atendimento dos primeiros casos da pandemia pode ser crucial para o planejamento no enfrentamento à doença nos momentos subsequentes. A dimensão humana que Fabiane imprimiu à conversa mostrou ainda mais a relevância dos contatos por meios digitais. Todos os presentes se sentiram próximos, e até tocados, pelo depoimento da médica.

A radiologista, que mora há 15 anos na Itália, começou sua apresentação contando da surpresa frente ao aumento avassalador no número de casos. Em 24/2, a Covid-19 era uma doença presente em apenas nove países europeus, contabilizando 47 casos no total. Em 5/3, a Itália já tinha registrado 4.550 casos, mas, segundo Fabiane, as pessoas continuavam frequentando as ruas normalmente. Segundo ela, a mensagem da necessidade de proteção não estava sendo comunicada corretamente. As autoridades sanitárias demoraram a perceber que o súbito aumento de casos de dificuldades respiratórias era devido à doença. Em 15 dias, o número de casos havia saltado para 12.462 e, em mais dez dias, eram 53.578 pessoas infectadas. Entre essas, 61 colegas médicos haviam falecido vítimas da Covid-19.

Isolamento é necessário

Fabiane reiterou várias vezes a importância do isolamento no combate à pandemia. “Os primeiros casos, na Itália, foram identificados em Codogno, pequena cidade próxima à Milão, onde os habitantes ficaram confinados até que os contágios foram zerados”, contou. Ela também descreveu a preocupação da equipe quanto à limpeza, que ela descreve como obsessiva, de todos os objetos porventura tocados por qualquer membro da equipe de atendimento, como maçanetas e telefones. Ainda, destacou que todo o pessoal hospitalar, incluindo porteiros e faxineiras, precisa ser cuidadosamente treinado no manuseio dos equipamentos de proteção. Na Itália, foram publicadas normas de cuidados a serem seguidos.

A união entre profissionais, destacou Fabiane, é agora mais importante do que nunca. “Analisar as evidências, agir com responsabilidade e unir todas as forças no combate ao coronavírus são ações indispensáveis”, ressaltou. Nesse sentido, as teleconferências são ferramentas extremamente úteis para possibilitar a troca de experiências. A médica forneceu várias informações sobre o diagnóstico do caso, kits de testes, utilização de TAC (tomografia computadorizada de alta resolução), radiografias e observação clínica na tomada de decisões de tratamento. O protocolo italiano contempla a internação apenas em caso de dificuldades respiratórias, e testagem para quem apresenta sintomas da doença.

Dimensão Humana

No dia 23/2, Fabiane deixou a mãe e o filho em uma casa na montanha, sem data prevista para o reencontro. “Há um mês, a vida era normal. Hoje, há multa para quem anda pelas ruas sem um motivo justificável”, lamentou. Ao final da reunião, a moderadora, professora Evelyn Eseinstein, contou que o SIG, realizado no dia 30/3, coincidiu com o aniversário de Fabiane. Os especialistas, que escutavam o relato com um misto de respeito e apreensão, desejaram sinceramente que o próximo aniversário da médica seja celebrado com a família, em um clima de amor e felicidade. E, sobretudo, saúde.

As sessões do SIG Covid-19 Brasil acontecem nas segundas, quartas e sextas-feiras, das 12h às 13h. Os encontros são destinados aos médicos e pesquisadores na área da saúde. 

A sessão dessa segunda (30/3) não pôde ser gravada, por orientação do governo italiano, que detém a difusão de informação sobre a pandemia de Covid-19 no país.